No final do ano de 2019 recebi a oportunidade de desempenhar o papel de consultor de Data Science em uma organização com a missão de criar um núcleo de dados em uma área que possuía uma intensa interação com o usuário final.
A expectativa do cliente era construir um ambiente que respondesse às necessidades referente à dados das áreas de negócio da empresa. A ideia é justamente o que você está pensando: vários profissionais de TI para gerar relatórios de dados das demandas vindas das áreas de negócio.
O projeto parece fantástico, e de fato é! Afinal, os dados são os que uma empresa tem de mais valioso, e sabendo usá-los da forma correta, tornam-se literalmente uma mina de ouro inesgotável.
Porém, mesmo que a ideia seja ótima e necessária, é preciso considerar alguns aspectos. Primeiro: a forma como se pensava essa área era parecido com uma “fábrica de relatórios”, sendo que nesse formato de trabalho, geralmente os profissionais não possuem clareza do porquê e para que estão gerando esses relatórios. Segundo: avaliando o cenário atual, o avanço da tecnologia, o ambiente político-legal, as ações dos concorrentes e as preferências e necessidades do cliente, é inevitável que as empresas estejam num mundo de incertezas referentes às ações a serem tomadas, pois as mudanças são constantes e seguem uma velocidade impressionante.
Analisando esses dois aspectos, é possível perceber que manter uma estrutura centralizada para geração de relatórios que opere na agilidade, ou melhor, na velocidade que o negócio demanda, é insustentável à longo prazo.
Considerando esses pontos foi proposto para a empresa uma estratégia aderente a transformação digital, com todos os seus conceitos e métodos com potencial transformador. Simplificando: a missão principal é auxiliar no processo de transformação digital e de cultura de dados através da criação de uma área de dados! Tendo agora mais claro o que precisa ser feito, o jeito é “arregaçar as mangas” e começar a trabalhar nesse projeto desafiador, e o primeiro passo foi conhecer a equipe e estrutura que a empresa tinha.
Um ponto a ser destacado é que a área de dados não estaria vinculada diretamente ao TI. Ela é, na verdade, uma área de dados formada por profissionais com habilidades técnicas inseridos nas áreas de negócio, de maneira a poderem atender às demandas desta com um perfil e skills bem importantes: a visão do negócio e conhecimentos técnicos de TI.
Observou-se que os profissionais que iriam atuar nessa parte de dados já desenvolviam projetos ETL’s em Python, criavam dashboards que monitoravam e acompanhavam processos críticos das áreas de negócio e utilizavam linguagem SQL para extração das informações. Apesar de fundamental e importante para as áreas de negócio, este trabalho não é aderente para criar estratégias de tomada de decisão para a organização. E este é o ponto chave pelo qual a empresa sentiu a necessidade de apoio de uma área de dados, para que, de forma inteligente, possam ser trazidas informações de valor para o negócio e que auxiliassem os gestores na tomada de decisão em níveis estratégicos e táticos.
Aqui um ponto importante: além de criar a área de dados, é necessário também formar esses profissionais para trabalhar não apenas como “geradores de relatório”, mas sim para serem disseminadores de uma cultura de dados dentro das áreas de negócio, o que não é algo automático, precisa ser uma cultura trabalhada e lapidada.
Provavelmente você possa ter pensado que essa missão da criação da área de dados seria apenas uma ação técnica, que envolveria infraestrutura, várias linguagens de programação e diferentes tecnologias. E é isso sim, mas não apenas isso. A cultura de dados transcende a tecnologia, deve ser incorporada pela equipe de dados e perpassa para os demais profissionais da empresa.
O conceito é fantástico e enche de brilho nossos olhos! Mas, como você já deve saber, essa não é uma tarefa tão simples. É necessário desconstruir padrões e construir uma nova forma de trabalhar. Agora, depois de contextualizarmos um pouco sobre essa missão, o desafio é mergulhar nesse case fantástico.
Ah, e é importante mencionar que em todo esse processo existiu um fator decisivo: a SORTE! Porém, como já dizia Jim Collins (2011) em seu livro Great by Choice, “it’s not the luck you get that counts; it’s what you do with it — your return on luck.” (não é a sorte que você tem que conta; é o que você faz com ela – seu retorno na sorte). Não esqueça desse detalhe, pois será retomado ao longo desta série de artigos.
Dividimos o texto em 5 partes, e nos próximos capítulos será descrito como se deu a ruptura de alguns conceitos para poder criar novos e iniciar o processo de cultura de dados. Então vamos em frente para descobrir como esse processo aconteceu!
Autores: Eduardo Quadros – Data Scientist Evangelist at Compass UOL
Sibele Muller – Engenheira de Dados at Compass UOL