The North 2023 | O impacto da Gen AI no futuro das organizações, por Amy Webb

Neste ano, o tema do The North – maior evento anual do grupo Compass UOL – foi:Gen AI & more: digital challenges to unlock human and ethical efficient growth. Em tradução livre, algo como ‘Inteligência Artificial Generativa e além: desafios digitais para destravar o crescimento humano e ético eficiente’. O evento, transmitido ao vivo do Harvard Club de Boston, no dia 25 de abril de 2023, teve a futurista Amy Webb como principal palestrante. 

Webb é fundadora e CEO do Future Today Institute e pioneira em uma metodologia de previsão baseada em dados, que hoje é utilizada mundialmente. Em sua palestra no The North, intitulada “How generative AI and other disruptive digital technologies are already impacting people and organizations (‘Como a IA generativa e outras tecnologias digitais disruptivas já estão impactando as pessoas e organizações’, em tradução livre), a futurista falou sobre como se posicionar num mundo onde a inovação constante é a regra. 

A primeira questão abordada foi, na verdade, um importante esclarecimento: “Não há como prever o futuro. Você não pode fazer isso. Há muita complexidade. Existem muitas variáveis.” A partir disso, Webb explica qual é o real trabalho de um futurista, já que o objetivo não é fazer previsões, mas estar preparado para o que pode vir a acontecer.  

Para estar preparado, segundo ela, o primeiro passo é procurar o que pode estar influenciando o futuro. Basicamente, de acordo com Webb, é preciso mapear o que está acontecendo hoje e que terá efeitos reverberantes, na medida em que tais fatos e eventos continuem a se desenvolver e a colidir. O segundo passo é analisar os efeitos indiretos, as implicações à jusante, bem como quais são os cenários macro, ou seja, como o mundo poderia ser na medida da consolidação destes movimentos. Por fim, considerando o que se sabe ser verdade e o que se vê chegando, compreender o que isso significa para as organizações em vista do que se pode modelar, usando dados e evidências, ou seja, elaborar cenários estratégicos.  

A partir de sua vivência como futurista, Webb observa que muitas empresas pulam essa etapa final, encerrando o processo com um relatório de tendências, que fica na prateleira porque não é necessário realizar nenhuma ação sobre ele. Isso ocorre, segundo ela, porque os cenários estratégicos são mais desafiadores, já que, como explica: “Uma vez que você vê o que está por vir e o que é plausível, você precisa adotar algum tipo de ação estratégica e realmente planejar”. Esse é o papel do futurista, segundo ela. 

 No que diz respeito à Inteligência Artificial generativa, Webb destaca: 

“Os robôs vão tirar todos os nossos empregos e, então, os robôs vão nos matar enquanto dormimos. […]. Acho que essa avaliação está errada. E, sim, acho que há muito com o que se preocupar. Mas a morte por ChatGPT não está no topo da minha lista agora. Na verdade, minha maior preocupação é que o debate sobre IA generativa tenha se tornado muito extremo. E talvez nem seja um debate. […] ninguém quer se sentar e ter as discussões práticas mais desafiadoras sobre o que realmente está no horizonte […]”. 

Nesse contexto, a futurista sublinha o peso que recai sobre os ombros dos líderes empresariais: “Espera-se que […] sejam especialistas em uma tecnologia muito complicada; eles devem ter conhecimento suficiente para poder tomar decisões sobre o futuro de longo prazo de suas empresas, o que, aliás, inclui a transformação digital”. Ela frisa o quanto é difícil, dada a complexidade do ambiente operacional para Negócios e Tecnologia, ver as mudanças que estão acontecendo em tempo real. A partir daí, Webb apresenta sua tese sobre porque continuamos tendo as mesmas conversas sobre futuros utópicos ou distópicos como produtos da IA generativa. 

Para iniciar, Amy apresenta o conceito de re-percepção a partir da análise de um experimento realizado pelo psicólogo estadunidense Karl Dallenbach, na década de 1950. O cientista buscava compreender por que, enquanto algumas pessoas veem certas coisas, outras veem coisas diferentes quando apresentadas às mesmas informações. O principal achado do experimento é que, ao ser confrontado, pela primeira vez, com uma imagem confusa (no caso do experimento, a imagem que ficou conhecida como a vaca de
Dallenbach
), o cérebro reconhece apenas dados sensoriais brutos.

Nestes casos, o indivíduo se concentra nos elementos que lhe são familiares, nos padrões que é capaz de reconhecer. Na imagem usada no experimento, esses elementos são os pontos escuros. Contudo, segue Webb, para realmente compreender a imagem, é essencial considerar também os espaços em branco, obtendo, assim, o quadro geral. A palestrante observa que, posto que os dados continuam os mesmos, ao acrescentar os elementos que não se destacam e que, portanto, não são tão óbvios, o que torna possível ver a vaca é a mudança na percepção. 

É esse movimento de re-percepção que a futurista considera uma habilidade crítica para líderes e central para trabalhar com previsão de futuros: “A re-percepção é a capacidade de dar uma olhada em um conjunto de dados, ou um conjunto de sinais ou tendências, ou apenas informações à sua frente, e ser capaz de entender essa imagem mais completa, não apenas prestando atenção ao que é óbvio, mas vendo tudo o mais que está lá.” 

Traçando um paralelo entre o experimento de Dallenbach e as discussões atuais sobre a IA generativa, a futurista parte do princípio de que o futuro não é bom nem ruim; é o resultado das decisões que as pessoas tomam, juntas, no presente. Portanto, para tomar decisões realmente boas, seja como CEOs, líderes em transformação digital ou parceiros que trabalham com esses diferentes grupos, é preciso explorar espaços em branco, indo além dos padrões conhecidos.  

Para isso, é preciso entender que as tendências por si só não são úteis: “[…] elas não farão muito, a menos que você as coloque em um cenário estratégico e inclua coisas como incertezas e construa alguns modelos”. Este é o caminho para elaborar estruturas baseadas em evidências que permitam ensaiar o futuro, pois este se forma na intersecção entre diversas tendências. Para ilustrar seus argumentos, a futurista propõe um exercício de imaginação sobre o futuro da sociedade dominada pela IA generativa, considerando dois cenários, um otimista e um catastrófico, daqui a 15 anos.  

Webb afirma não acreditar que o futuro será exatamente como algum desses cenários, mas que um pouco do que ela descreve com certeza vai acontecer. Ela diz saber disso porque os cenários foram desenhados a partir de sinais que são vistos no presente e de modelos que constrói com a equipe do Future Today Institute.  

 

Cenário otimista 

Desaceleramos, decidimos fazer um plano. Paramos de falar em extremos sobre IA e construímos a próxima geração de tecnologia para beneficiar ao máximo a sociedade. Os sistemas generativos de IA e a tecnologia emergente nos ajudaram a estar presentes junto aos outros. Pais ocupados contam com IA generativa para responder à temida pergunta: ‘O que há para o jantar?’. Todas as noites, ela gera receitas automaticamente, envia mantimentos para sua casa. E quando é hora de começar a cozinhar, até dá um trabalho para cada membro da família para que todos cozinhem juntos. Na hora de comer, não há telas na frente das crianças ou dos pais. Como todos nós usamos interfaces invisíveis, conversamos uns com os outros enquanto comemos. É uma coisa nova. 

As marcas não se perdem no processo, os consumidores têm escolha, podem definir suas preferências para sempre escolher suas marcas favoritas. Ou eles podem selecionar sua escolha com base na marca e no preço, ou o que for importante para eles. E as marcas recuperam os dados. Portanto, os dados não ficam apenas presos em uma caixa preta. As marcas têm dados, as plataformas têm dados e os consumidores têm voz ativa sobre quem está obtendo acesso a quais interfaces invisíveis que os ajudam de maneira significativa a viver suas vidas.

As IA automatizam tarefas como pesquisa, encontrar um vestido para usar em um evento, descobrir novos insights de negócios usando um conjunto de dados. Coisas assim podem nos ajudar a ser mais produtivos. Conclusão: a transformação digital é sobre transformação, evoluindo da vida como era no ano de 2023 para a vida reimaginada, otimizada, para o ano de 2038. Todos podem participar e todos estão tendo sucesso. 

Cenário catastrófico 

Aceleramos, não fizemos um plano. Os extremos da IA prevaleceram. As guerras de IA se intensificaram. Todos ficaram com FoMO (fear of missing out) e tomaram decisões rápidas em vez de boas decisões. Construímos a próxima geração de tecnologia para aumentar ao máximo a receita. E a pior parte é que as empresas pensaram que a IA generativa e a tecnologia emergente poderiam simplesmente substituir todos os humanos.  

Então, no final da década de 2020, toneladas de empresas se livraram de toneladas de trabalhadores humanos e tentaram terceirizar todos os trabalhos para as máquinas, o que significava que havia menos humanos envolvidos. Isso se tornou um grande problema porque os robôs são a verdadeira ameaça. Os algoritmos funcionam; a ameaça é não saber quais dados estão sendo usados e por quem. 

Os sistemas generativos de IA e a tecnologia emergente resultaram na hiper personalização de tudo em nome da atenção. Então, apenas esperamos que os sistemas de IA nos digam o que fazer. Somos escravos de algoritmos, há um certo desamparo aprendido. Dizem-nos o que comer com otimização para, provavelmente, a saúde. Não se sabe. Não está claro. Não sabemos o que está sendo otimizado e por quê. As famílias podem sentar-se ao lado uns dos outros, mas estão assistindo a um conteúdo personalizado.  

Na verdade, começamos a ver isso no ano de 2023. Mas todos estavam distraídos. Queríamos falar sobre IA, que ela iria nos matar durante o sono. Ninguém queria falar sobre as outras coisas, coisas como marcas se tornando invisíveis e como isso estava acontecendo ou por que isso não estava muito claro. As interfaces invisíveis nos ajudam a viver a vida. E nossos dias estão cheios de erros, falhas estranhas e confusão. Isso nos lembra do viés que existia nos sistemas de IA, mas nunca foi resolvido (sexismo, racismo e outros ismos). A transformação digital, estranhamente, acabou sendo um erro, porque não fizemos direito. Pensamos nos dias predominantemente analógicos de 2023, desejando ter feito escolhas melhores. 

Sobre qual destes cenários será prevalente, a palestrante acredita que ambos têm a mesma chance. Para ela, a definição depende das escolhas dos grandes decisores hoje. Por isso, aconselha: “Na próxima vez que você ouvir um executivo falando sobre os robôs assassinos, ou que os robôs vão dominar o que quer que seja, pare de falar sobre robôs, da IA generativa fazendo isso ou aquilo. Ouça educadamente e, em seguida, conduza-o para as partes mais importantes da conversa”. Sua sugestão é que se fale de forma pragmática sobre o que a IA generativa pode realmente fazer, onde está a geração de valor e por que é preciso investir nisso em empresas de qualquer segmento. 

Para encerrar sua fala, Webb destaca quatro pontos-chave e deixa uma mensagem final aos líderes empresariais: 

  1. Vá além do hype e dos extremos. 
  2. Pratique a re-percepção repetidas vezes. 
  3. Lembre-se de que as tendências por si só não são úteis, mas sim a convergências entre elas. 
  4. São os cenários estratégicos que ajudam a ensaiar futuros. 

Comece a perguntar ‘e se?’ agora para que nunca seja preciso perguntar ‘e agora?’ no futuro.

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