Nada mais natural que na descrição das habilidades e competências esperadas para uma oportunidade de analista, seja de negócios, de sistemas ou de dados, seja explicitada a necessidade de que o profissional possua um destacado poder de análise, muitas vezes declarado com a chamada: perfil analítico. Claro, afinal o analista, em tese, analisa algo. No entanto, tem chamado a atenção e causado um certo desconforto (ainda busco um melhor adjetivo para isto) que a ampla maioria – para não dizer todas – as oportunidades que aparecem publicadas em sites de recrutamento e seleção, entre outros especializados em ofertar vagas, que não se exige, adicionalmente, um perfil sintético. Mas por que isso me causa desconforto?
Sintetizar um conhecimento é algo tão ou mais importante do que o conhecimento em si sob pena de caso o transmissor da informação não o fizer de maneira adequada, ela não será corretamente transmitida e decifrada. Do contrário, se abusar da síntese, poderá fazer com que a informação seja exposta pela metade.
Não discorrerei sobre a tarefa de analisar um fato ou mais, pois tem sido exaustivamente debatida em fóruns de análise e na academia. Vou debruçar-me, ainda que sem me aprofundar o bastante, tão somente sobre a síntese e longe do que possa sugerir o título do artigo, o poder de síntese não pressupõe antagonismo ao poder de análise, muito pelo contrário: são elementos complementares.
Indo para uma seara mais confortável, quando publico um dashboard, a minha intenção principal é de convencer alguém a consumir a informação que estou expondo. Errou quem disse que a intenção principal do dashboard publicado é de que a informação esteja apresentada da maneira correta na forma e no conteúdo. Essa preocupação é de uma etapa anterior à publicação, e, também, condição necessária para atender a intenção principal. Polêmico? Vou explicar.
Como nasce um dashboard?
Na maioria dos casos em que eu assumi um papel de liderança na exposição de dados, obedeci o seguinte macro processo:
- Identificação da necessidade do cliente amparada por uma boa análise de negócio.
- Gestão dos recursos de dados que sustentarão a necessidade identificada.
- Análises Exploratórias, Explícitas e Implícitas dos dados baseadas nos insumos e direcionamentos da análise de negócio tais como as hipóteses levantadas e os KPI’s 1.
- Síntese das análises envolvendo a criação de um modelo de dados e a construção e publicação de dashboards.
- O dado exposto é consumido pelo cliente.
As etapas descritas acima, obviamente, não são rigorosamente sequenciais, podendo ocorrer de maneira paralela e se subdividirem em pacotes de tarefas menores, mas a grosso modo, essa tem sido por anos a minha “receitinha” de bolo.
O que eu tenho observado, nos inúmeros dados expostos que meus olhos passam, é que a etapa 4 tem sido severamente negligenciada, prejudicando, assim, o consumo das informações e consequente sucesso da missão. Às vezes, o que está publicado é uma tabela com muitas colunas, e não raras, com mais de um tipo de dado. A poluição visual só não é maior que a poluição informacional. Gráficos de pizza com mais de 7 categorias; barras misturadas com linhas com métricas em escalas diferentes separadas por um abismo numérico. Na preciosidade de mostrar o número ipsis litteris esquece-se que o principal seria a curva, a tendência e o comportamento do indicador. Que poder de síntese há em apresentar uma tabela crua, sem ter tido a devida preocupação com a estética, mesmo que analisada?
Em todos os níveis organizacionais, da diretoria ao operacional, as informações devem ser diligentemente sintetizadas de maneira a se adequar ao público que a irá consumir. Isto porque a síntese de uma informação publicada para outros pares de analistas é bem diferente da síntese para um diretor de marketing, por exemplo. Imagine esses dois papéis recebendo informações trocadas, ou seja, o analista recebe o material publicado para o diretor de marketing e este recebe o material dos analistas. Garanto que o primeiro achará que estão faltando informações, enquanto o pobre diretor está sofrendo com um excesso desnecessário delas. O que ocorre, numa gama significativa de casos, é que o mesmo dashboard é apresentado igualmente aos diferentes papéis nas empresas, sem a preocupação com a drill down adequada. Algumas vezes até é possível mergulhar na informação, mas ao invés do mergulho ser suave, ele é inseguro, confuso e – palavrinha mágica – descontextualizado.
Quais são as preocupações que devo ter para sintetizar de maneira adequada um dashboard?
A primeira delas é trazer nexo ao público consumidor. Portanto, a palavra a ser perseguida aqui é a contextualização, e com isso em mente sua missão é ter bem clara quem será o público consumidor. No estilo Sérgio Chapelin 2, pergunte-se: quem são/serão os consumidores do dashboard? Onde vivem? Do que se alimentam? Enfim, saiba tudo, deste público para então dar a relevância devida à informação que será apresentada. A contextualização passa por um entendimento seu do que é relevante para o seu público. Se sua etapa de análise de negócio foi bem feita não terá grande trabalho em saber, mesmo que implicitamente, o que é relevante para quem irá ou pretende consumir sua informação analisada. Traga sempre isto à luz: firme e confirme toda vez que julgar necessário quais informações são imperativas para tomada de decisão por parte do público consumidor. Após estas etapas da contextualização é que você se perguntará “das informações que analisei, quais e de que forma sustentam a contextualização para que a informação seja consumida?”. Como Knaflic (2018, pág. 23) diz: “Dados se tornam a evidência que corrobora a história que você vai contar”.
A segunda preocupação deve ser com a escolha de um recurso visual adequado. Não me delongarei explicando o tema, pois a internet possui um vasto material sobre “qual gráfico é adequado para qual tipo de informação”, entretanto, chamo a atenção para que, dotado de uma contextualização perspicaz, você tenha o cuidado com a escala, o tipo do dado, a temporalidade, a complexidade, e a característica de cada informação que deverá ser sintetizada; primeiramente num único gráfico, e depois contextualizada com mais gráficos e elementos de um dashboard. Outra perspectiva, mas ainda neste assunto, é publicar no painel somente objetos com valor informativo. Elimine o excesso a fim de não correr o risco de confundir ou trazer complexidade no processamento da informação por parte do consumidor.
Por último, a preocupação é entender como as pessoas consomem a informação, num sentido mais fisiológico: ver e processar esta informação. Entender este processo cinestésico é condição indispensável para que o contexto apresentado seja intuitivo e a “navegação” no painel possa ser a mais fluida possível. Knaflic chama a atenção para as ferramentas denominadas de “atributos pré-atentivos”. Sobre o uso destas ferramentas, ela explica que podem ser usadas para ajudar a direcionar a atenção do público e para, também, criar uma hierarquia visual dos elementos, contribuindo para que o público esteja sempre servido com a informação exposta de maneira adequada. Atente que tamanho, cor, estilos, contornos e formas são pontos que devem sempre ser levados em consideração para guiar a leitura das suas informações.
Tendo essas três preocupações devidamente atendidas, seu poder de síntese estará aguçado o suficiente para construir um dashboard funcional e de altíssimo valor para o tomador de decisão. Agregado de forma adequada, sem pecar, seja no excesso ou na escassez da informação. Veja que tanto a forma (estética) quanto o conteúdo que está publicado o dado, são os principais elementos de convencimento para que o público a quem se destina tal informação possa consumir seu relatório de tal maneira que sua missão venha a ser um sucesso.
Desta forma, podemos dizer que a principal intenção da etapa de publicação de um dashboard percorre o convencimento do consumidor a consumi-lo, ou seja, de ter uma síntese adequada das informações apresentadas. Estarem corretas e relevantes no tempo de no espaço é a preocupação que antecede a síntese, qual seja justamente a análise das informações.
E então, já considera desenvolver seu perfil sintético ou contratar alguém que o tenha além do perfil analítico?