Estratégias de aprendizagem

“Houve uma vez, uma batalha num lugar chamado Termópilas. 300 bravos gregos resistiram a um exército persa com 1 milhão de homens. Por 2 dias os gregos os fizeram pagar tão caro, que os persas perderam todo o gosto pela batalha.” — O Último Samurai

Naqueles 2 dias, os gregos mostravam ao mundo que é possível combater e derrotar um inimigo, demasiadamente superior, utilizando um recurso valioso em específico: Estratégia.

A estratégia é uma arte, uma ponte que conecta os meios aos fins. Uma equação que combina “o que você quer” com o “como você pretende conseguir aquilo” e que culmina numa sequência de etapas, planejadas e estudadas. Que quando executadas tem o potencial de levar à conclusão do objetivo.

Os persas estavam confiantes pela diferença numérica e os gregos tiraram vantagem disso. Eles atraíram os persas para um corredor estreito onde não conseguiam entrar de uma só vez, precisavam entrar em grupos, nos quais enfileirados horizontalmente, só poderiam passar cerca de 20 soldados. Enquanto do outro lado, os gregos os aguardavam firmemente alinhados em sua formação de falange, protegidos por seus grandes escudos e com suas lanças apontadas para frente, tornando-se uma barreira potencialmente intransponível quando combatida de frente.

Ao longo dos últimos anos, me aprofundei num campo da neurociência chamado ciência da aprendizagem. É um universo magnífico, que permite compreender como nosso cérebro foi concebido para aprender.

Diante disso, reuni as principais estratégias de estudos que utilizo no meu cotidiano e considero como as mais eficientes. Elas foram desenvolvidas em cima de estudos científicos e testadas em diversas áreas incluindo o meio acadêmico. E possuem como base a forma como nosso cérebro foi desenvolvido para aprender. São elas:

  1. Elaboração
  2. Geração
  3. Reflexão
  4. Calibração

Elaboração

A elaboração é um processo que consiste na associação da nova informação com o que já conhecemos sobre o assunto. Ela ocorre pela capacidade natural do cérebro em agrupar informações por meio do significado.

Podemos imaginar o processo de elaboração como uma criança brincando com várias bolas de massinha de modelar, de cores diferentes. Essa criança olha ao seu redor e avista pequenas bolinhas azuis espalhadas e misturadas entre bolinhas de outras cores. Ela então recolhe somente as bolinhas azuis, e junta com o montante da grande bola azul que ela está formando. E assim ela repete o mesmo procedimento com as verdes, com as vermelhas e por fim, com as amarelas. Juntando as bolinhas e formando uma só bola grande, para cada cor.

Bolinhas de Biscuit — Cada bolinha representa um tipo informação diferente.

Do ponto de vista fisiológico, o nosso cérebro é a criança que distingue as diferentes cores de bolinhas, ele as organiza e as separa por cores. As bolinhas de mesma cor possuem semelhanças e familiaridades entre seus conceitos. Por isso elas são atraídas e reunidas para um lugar em comum, um local que associa e engloba informações por meio de seu significado.

Duas formas poderosas de elaboração são por meio de metáforas e analogias, que consistem em buscar semelhanças entre assuntos distintos e por mais ousados e abstratos que sejam, resgatá-los para o nosso cotidiano. Tornando possível enxergar por outras perspectivas. Exemplo de metáfora foi associar o processo de elaboração com a bolas de massinhas, ou até mesmo associar os átomos e seus elétrons com o sistema solar.

Geração

A geração é a tentativa de responder as perguntas e desafios, antes que a solução seja apresentada. Como eu gosto de dizer: “Tentar fazer um bolo, sem ter em mãos sua receita”.

Se antes da solução ser apresentada, você chegou na resposta certa: maravilha! E se você não chegou: excelente! Pois a ideia aqui não é acertar e nem errar, é tentar. A geração possui, como efeito primordial, tornar nossa mente mais receptiva a novas aprendizagens.

Vamos realizar uma metáfora entre um jogo de quebra-cabeça e uma questão desafiadora que algum professor passou em sala de aula.

Durante a construção do quebra-cabeça, vamos juntando todas as peças que podem ser conectadas e avançando na construção do desafio. Temos um trabalho penoso, de analisar peça por peça e identificar quais que se encaixam e quais não. Após o quebra-cabeça estar quase totalmente formado, digamos que somente restou uma única peça mas que ainda não conseguimos conectá-la, e após diversas tentativas falhas, a solução nos é apresentada e então conseguimos encaixar a peça que faltava para concluir o quebra-cabeça.

A primeira vista, parece que o nosso processo recheado de tentativas e frustrações foi em vão. Mas não é bem o que parece. Internamente nosso cérebro trabalhou em formar uma trilha de etapas, que foi sedimentada, repetida e solidificada, ao ponto de receber a última peça que faltava para obter a compreensão do problema. Isto é muito mais eficaz do que ir direto para a solução, sem ter o terreno em nossa mente “fertilizado” para receber o novo conhecimento.

Possuímos um tipo de neurônio que lida com nossa sensação de prazer e gratificação, chamado dopamina. Por meio de repetição, progresso e aprendizagem de uma tarefa, nossas sinapses dopaminérgicas (o meio pelo qual esses neurônios transmitem informações de uma célula para outra) tornam precoce a liberação de dopamina sinalizando e prevendo uma recompensa eminente. Isso nos dá uma forte sensação de prazer, antes mesmo da conclusão da tarefa.

Errar nos coloca num estado de desespero, preocupação e angústia. Nos obriga a questionarmos onde foi que erramos, então repetimos várias vezes o processo até identificarmos o erro, em busca da solução. Acertar de primeira vez, é um convite sedutor para seguirmos adiante no próximo desafio, sem questionarmos do por quê do resultado anterior.

Reflexão

A reflexão é união dos processos de elaboração com a geração. Em última análise, é o ato de refletir sobre os desafios e problemas. Levantamos questões como: “Que outras estratégias eu poderia tomar para obter os mesmos resultados?”, “que outra solução eu poderia utilizar para chegar na mesma conclusão?”, “e se eu fizesse deste jeito, o que implicaria?”… E em cima destas questões, reconstituir o problema em nossa mente pelos mais diversos caminhos, imaginando suas possíveis soluções.

A reflexão é extremamente poderosa, ela pode nos levar a obter conclusões valiosas, além de nos permitir treinar novas técnicas e refazer os problemas e desafios em nossos pensamentos.

“Ler fornece ao espírito materiais para o conhecimento mas só o pensar faz nosso o que lemos” — John Locke

Calibração

Podemos definir a calibração com uma pergunta: “O quanto eu realmente sei, daquilo que acho que sei?”. Somos facilmente enganados pela familiaridade de um assunto que está fresquinho em nossa memória de trabalho (memória de curto prazo), logo acreditamos que já sabemos e no momento de por em prática, somos surpreendidos por um “vazio”, o famoso “deu branco”.

A convicção que muitas vezes temos a respeito de um assunto que acabamos de ler ou escutar, deve-se a um mecanismo de familiaridade fonológica que torna a informação fresca em nossa memória, mas de forma rasa e superficial, dando a impressão de que compreendemos, e por conta disso confiamos em nossa intuição. Lembramos da casquinha do assunto, mas não de sua aplicação.

A calibração consiste em testar-se, colocando a prova nosso conhecimento frente a nossa ignorância. Realizando desafios com o objetivo de refinar e ampliar nossa apreciação e entendimento do assunto. E a cada nova calibração, reforçamos nossa compreensão, além de impedirmos a curva do esquecimento e de nos imunizar das ilusões de aprendizagem.

Esses desafios baseiam-se em praticar exercícios sobre o tema, responder questionários, simulados, elaborar perguntas inerentes à matéria e tentar resolvê-las.

É por meio da calibração que somos capazes de discernir “aquilo que acho que sei”, “do que realmente sei”, além de aprimorar, atualizar e expandir o nosso conhecimento.

Mozart

“Para evoluir, basta fazer como Mozart fazia:
Copiar, testar, corrigir e recomeçar… E recomeçar… E recomeçar…”
— Fabio Akita

Gostou da solução? Nós podemos ajudar!

Conheça nossos conteúdos gratuitos, direcionados aos assuntos de sua preferência!

Enviar

Receba nosso conteúdo

Gostaria de receber de forma gratuita mais conteúdos sobre este ou outros assuntos? Preencha o formulário abaixo e receba nosso conteúdo gratuito!

Parabéns!

Você receberá nosso conteúdo em breve!

Atenção

Tivemos um problema com seu formulário, tente novamente.