Estamos em 2030

por Alexis Rockenbach, empreendedor e otimista incorrigível

Já se passaram 10 anos daquele fatídico 2020. Sabemos que não somos mais as mesmas pessoas de antes. Os primeiros anos da Covid-19 foram extremamente cruéis com a humanidade. Milhões de vidas foram interrompidas antes do tempo. Todos perdemos muitos amigos, familiares e pessoas queridas. Não houve faixas etárias, geografias, raças, gêneros ou etnias que não foram impactadas pelos efeitos da pandemia. As populações em situação de pobreza, em todo o mundo, foram as mais atingidas. Ainda assim, entre os países com maior número de mortos pela pandemia, também estavam algumas das economias mais desenvolvidas. Todos, sem exceção, fomos impactados brutalmente. A esperança de que dias melhores viriam, parecia continuamente nos escapar.

A impossibilidade de estarmos fisicamente próximos às pessoas que amamos, especialmente naqueles momentos mais difíceis, onde muitos deles estiveram isolados em hospitais, lutando pela sobrevivência, fez sentirmo-nos impotentes. Nosso inimigo, um vírus, para o qual não estávamos preparados, apesar de toda a evolução científica, nos fez lembrar como somos pequenos em relação às forças da natureza.

Inicialmente, não encontrávamos tempo suficiente para refletir sobre o tamanho da transformação que poderíamos propor. Buscávamos sobrevivência e soluções que pudessem remediar os impactos sociais e econômicos mais imediatos. Éramos consumidos pelos números terríveis da doença, pela carência afetiva nascida do distanciamento físico, pela angústia oriunda da falta de perspectivas para a retomada econômica, e pela ausência de mais lideranças globais e regionais, com as habilidades apropriadas para nos guiar. Seja na imprensa, nas redes sociais, ou mesmo em nossos grupos familiares ou de amigos, os temas negativos dominavam. O olhar contínuo para os problemas, não sinalizava esperança, e limitava nossa capacidade de encontrar caminhos para nos reinventarmos.

Esta dor e o sentimento de impotência, no entanto, não foram maiores do que nossa capacidade de reconstruir. Em pequenas doses, nossa capacidade criativa, o conhecimento científico, e as inovações tecnológicas foram se tornando ferramentas para moldarmos o momento transformador que começamos a construir.

Percebemos que as disrupções que já estavam em curso antes da pandemia, foram aceleradas pela necessidade de encontrarmos soluções para o futuro. Enxergamos que as evoluções tecnológicas poderiam ser um caminho para reconstruir as nossas dinâmicas sociais. Compreendemos que essa combinação de conhecimento, tecnologia e criatividade, não seria capaz de apagar os impactos negativos trazidos da pandemia, mas poderia criar oportunidades de transformação.

A mesma realidade que nos impediu de circular, de ir ao trabalho, também permitiu que déssemos mais valor a estar em casa, com as pessoas que amamos. A impossibilidade da convivência presencial de antes, abriu oportunidades, para as novas tecnologias, apps, conectividade. Ela nos permitiu ter novas ideias, desenhar negócios diferentes, e nos aproximamos mais, não só de quem já interagíamos, mas também, de pessoas com as quais antes não estávamos próximos.

Evoluímos a abrangência das soluções digitais e agora as aplicamos em escala muito maior, em tudo que fazemos. Mudamos radicalmente a forma como antes fazíamos consultas médicas, como estudávamos, como comprávamos, e como vivíamos. Não estávamos preparados para a velocidade das mudanças que nos foram impostas. Porém, essas inovações, como o uso massivo da inteligência artificial para nos ajudar a decifrar problemas complexos, ou a disseminação do uso das plataformas de realidade imersiva e de computação cognitiva, vieram para ficar. Elas nos permitiram encontrar formas melhores e mais inteligentes para substituir o modo como fazíamos quase tudo. Criamos assim, tempo para aprendermos mais, para evoluirmos mais, e para reencontrarmos a felicidade, em uma nova forma.

As nossas perdas na pandemia jamais serão reparadas. Porém, também é verdade que aceleramos a busca coletiva de sermos mais sociais. Aprendemos a valorizar coisas mais simples, a estar mais próximos e a cuidarmos uns dos outros. Passamos a enxergar a tecnologia como um elo que nos aproxima, e não como um obstáculo que nos separa.

Nos relembramos que precisamos garantir um planeta sustentável e viável para as futuras gerações, que não precisamos de tantos carros circulando nas ruas, que podemos usar mais bicicletas, queimar menos combustível, e assim sermos mais saudáveis. Tivemos a oportunidade de nos tornamos mais humanos. Inovamos em grandezas que não havíamos conseguido até então. Criamos vacinas em prazos impossíveis. Vimos organizações e países do mundo inteiro, se mobilizando de uma forma integrada, para acelerar a busca de soluções para os problemas da sociedade.

Podemos agora nos orgulhar de dizer que a humanidade soube superar o momento mais crítico. Nunca mais voltamos ao antigo “normal”, e sim, desenhamos um novo mundo muito mais criativamente tecnológico, equilibrado, sustentável e promissor. Em meio à imensa dor e aos momentos perturbadores que vivemos, soubemos encontrar forças para repensar e reconstruir, e temos agora oportunidade de sermos pessoas muito melhores do que éramos antes.

Este é um texto que escrevi, tentando imaginar como será a ótica de alguém, que em 2030, se propuser a fazer uma reflexão sobre o que vivemos na década que se passou. Como diz o Gil Torquato, “Olhe para a flor”. Na minha visão, este é um futuro que ainda não existe, mas que está ao nosso alcance construir.

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